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         Os parabenos são geralmente considerados como conservantes seguros, uma vez que são rapidamente absorvidos e metabolizados em ácido p-hidroxibenzóico, que é menos tóxico do que os compostos originais, e são, por conseguinte consumidos em grandes quantidades diariamente.

          Devido à sua utilização generalizada, a toxicidade potencial dos parabenos foi estudada tanto in vivo como in vitro, para avaliar uma variedade de aspectos toxicológicos. Relatórios recentes indicam que a exposição modular a parabenos pode interferir com o sistema endócrino e, portanto, pode ter consequências prejudiciais na saúde do animal e do homem.

          Alguns estudos recentes têm relatado os efeitos adversos no sistema reprodutivo pelo uso de produtos como os parabenos.

          O metabolismo energético é um processo fundamental a todas as funções das células e é de importância crucial no esperma, dado que este é constituído por células móveis especializadas que têm de se mover rapidamente para encontrar e fertilizar o óvulo.

          Os efeitos inibidores dos parabenos na respiração mitocondrial foram já demonstrados, assim como a diminuição do potencial de membrana mitocondrial em mitocôndrias isoladas de testículos. Adicionalmente, os parabenos são indutores potentes da transição de permeabilidade mitocondrial que é sensível à ciclosporina A em mitocôndrias isoladas induzidas pelo cálcio.

          A exposição de roedores ao butilparabeno e ao propilparabeno apresentaram efeitos adversos na síntese de testosterona e na função reprodutora masculina.

          Um estudo sobre os efeitos da exposição materna ao butilparabeno durante a gestação e lactação demonstrou que esta exposição pode afetar adversamente o desenvolvimento do órgão reprodutor masculino. De facto, a percentagem de crias nascidas vivas e a percentagem que destas sobrevivem ao desmame foi significativamente menor após a exposição. Além disso, e mais importante ainda, o peso dos órgãos do sistema reprodutor masculino (testículo, vesículas seminais e próstata), a contagem de esperma e a mobilidade dos espermatozoides foram afetadas negativamente, bem como o número de espermátides alongadas na fase VII do túbulo seminífero.

          Uma questão de grande preocupação são os efeitos transgeracionais dos agentes de desregulação endócrina, possivelmente mediados por imprinting.

          Devido ao papel importante das mitocôndrias no metabolismo testicular, é lógico supor que os parabenos podem também interferir com a função energética mitocondrial e assim perturbar a função do esperma. Parece possível que a acumulação de tais compostos possa levar a concentrações toxicológicas relevantes que iriam perturbar a bioenergética mitocondrial. De fato, os resultados preliminares deste estudo, indicam que vários parabenos presentes têm uma toxicidade direta nas mitocôndrias testiculares isoladas, mesmo em baixas concentrações.

          Apesar de poderem existir algumas diferenças estruturais, a função e o mecanismo de produção de energia de ambas as mitocôndrias, do fígado e dos testículos, são muito provávelmente afetados pela mesma gama de concentrações de parabenos.

         Finalmente, neste mesmo estudo, estabelecem também a cadeia respiratória da mitocôndria e os sistemas de fosforilação como alvos dos parabenos.

          Embora os efeitos dos parabenos pareçam afetar negativamente a reprodução masculina, mais estudos são necessários para entender melhor a toxicidade e também estabelecer limiares de confiança que possam indicar com precisão quando a reprodução pode ser seriamente comprometida (Tavares et al., 2009).

 

  • Tavares, R.S., Martins, F.C., Oliveira, P.J., Ramalho-Santos, J., and Peixoto, F.P. (2009). Parabens in male infertility—Is there a mitochondrial connection? Reprod. Toxicol. 27, 1–7.

 

 

Figura 1- Alguns alvos intra-mitocondriais de reconhecida importância. Mostram-se os quatro principais alvos no interior da mitocôndria, a cadeia respiratória mitocondrial (MRC), o DNA mitocondrial (mtDNA) e os poros de transição de permeabilidade mitocondrial (MPT)  (Tavares et al., 2009).

 


 

Figura 2 - Possíveis alvos da ação dos parabenos em espermatozóides humanos. Os parabenos podem interferir com a mitocôndria do espermatozóide (ou durante a espermatogénese), organizada na peça intermediária (seta) e também com o acrossoma, uma vesícula secretora, na cabeça do espermatozóide, contendo enzimas hidrolíticas  essenciais para as interações espermatozóide-óvulo (setas). Como no caso de outros xenobióticos, o DNA nuclear dos espermatozóides (asteriscos), também pode ser afetado pela exposição aos parabenos (Tavares et al., 2009).

 

 


 

A mitocôndria e a infertilidade


 
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